Há 160 anos, precisamente em abril de 1864, Dostoiévski publicava “Memórias do Subsolo”, livro que virou do avesso todas perspectivas românticas do homem moderno, prenunciando os fenômenos psicossociais mais estranhos, mais insuspeitados, e que, no entanto, se verificariam pouco depois de sua morte.
Essa curta novela, escrita em apenas seis semanas, concentraria uma intuição de tão grande alcance que seu protagonista, seu tema e argumentos se reproduziram com renovado fulgor nas quatro obras-primas subsequentes (Crime e Castigo, O Idiota, Os Demônios e Os Irmãos Karamazov), compondo um conjunto romanesco sempre ascendente e poderoso.
Nietzsche confessou tê-lo lido com a apreensão e fascínio de quem se depara com um precipício (talvez porque estivesse vislumbrando o itinerário de sua mente para a loucura que a devastaria). Freud dedicou-lhe um longo ensaio psicanalítico, provando que Dostoiévski tinha mais a dizer sobre ele, do que ele sobre Dostoiévski.
Proust, no penúltimo tomo de sua obra, admitiu ter buscado no subsolo a técnica narrativa para exorcizar seus demônios. Sartre tentou imitá-lo com a peça teatral “Entre quatro paredes”. Camus tentou emulá-lo com o romance “O homem revoltado”. E há quem entreveja na obra de Houellebecq uma longa reverberação do subsolo.
Pensando nisso, neste mês de abril, a Revista Unamuno vai comemorar esse romance com uma pequena série de ensaios.
O primeiro ensaio do "#MêsdoSubsolo já está no ar